Zenilda Ribeiro
Escrever é um ato libertador e uma forma de me reinventar.
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Onde você vê números, vejo rostos.

Então estamos chegando a mais uma sexta-feira. Mais uma semana vencida, vivida, assim, meio sofrida, mas tudo é vida, é dádiva. Alguns não estão mais completando essa semana nos seus calendários, suas agendas foram interrompidas. Para muitos a semana terminou segunda, terça, quarta ou ontem. Terminou a semana é a existência. É momento de rever muita coisa, de pensar bastante no valor que temos dado ao ar que respiramos e que a falta dele foi crucial e fatal para muitos e muitas.
 
Ontem os jornais nos mostravam algo devastador e assustador: ultrapassamos, no Brasil, a casa dos nove mil óbitos, mais de seiscentos em 24 horas. É terrível quando seres humanos passam a figurar nas notícias como números, números a menos. Ali, naquele gráfico onde estão escritos números, naquela coluna vertical, para as milhares de famílias espalhadas pelo país, são vidas, eram vidas, pais, mães, filhos, esposos, esposas, amigos, parentes. São números que doem, que partem a alma. Que dilaceram.
 
É hora de parar para refletir em quantas tragédias humanas temos vivido. Muitas delas anunciadas, mas ignoradas por interesses vil, por um sistema capitalista perverso, que devasta florestas, que mata rios e gentes, porque produzir, gerar riquezas, essa é a meta. Mas é também hora de pensar no nosso egoísmo individual, na nossa falta de empatia. Poderíamos estar vivendo essa pandemia sem tantas mortes, poderia até já está sob controle, caso os governantes fossem líderes humanitários e as pessoas mais humanizadas, se comportassem movidas pela conduta do respeito, da disciplina. Se tivéssemos obedecido aos ditames da ciência quando nos mandou "ficar em casa", muitas vidas poderiam ter sido salvas.
 
Ah, mas de nada vai adiantar, caro leitor, nos deter nos "se isso", "se aquilo". o que adianta mesmo agora é aprender. É saber que ainda não acabou. É cuidar para reduzir essas mortes, é amar aos que ainda estão conosco, é valorizar cada minuto, cada movimento de respiração e inspiração. É mudar atitudes e comportamentos. É ser empático com os que sofrem, que choram. É ser gente, gente humana, que ama.

Além do uso das máscaras, do ficar em casa, usar também as vestes da solidariedade. Procurar saber que há pessoas perto de você que hoje não têm o que comer. Há pessoas com suas contas de luz, água, aluguel, atrasadas. Há pessoas precisando de medicações. Há pessoas precisando do mais básico pra passar esse dia. Há pessoas precisando de um afeto, mesmo que através de uma tela de celular. Creio que já passouda hora dos governantes disponibilizarem serviços de atendimento psicológico online.

Talvez, antes de garantir uma plataforma online para dar continuidade às aulas, seria interessante garantir serviços para dar suporte à vida. Serviços de atendimento virtual para ouvir, aconselhar, aliviar a dor, a ansiedade, a angústia vivida pela quase totalidade das pessoas da nação. Mas, enquanto os governos não agem, vamos fazendo a nossa parte. Muitas vidas podem ser salvas por meio de pequenos gestos. Pense nisso.
Zenilda Ribeiro
Enviado por Zenilda Ribeiro em 08/05/2020
Alterado em 08/05/2020
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