Olho-me, e não me vejo
Ou... não me reconheço no que vejo
Talvez o que vejo não seja o que pensei ser
Talvez o que fui sufocou o que sou
Talvez eu não queira revelar o que sou
Tanto tempo tentando criar uma versão
Que se adequasse aos ditames da sociedade
Como pintinho que pra nascer quebra a casca
Comecei esse processo no interior do meu ser
Sair da casca que me aprisionava
Ah, mas romper essa casca por vezes assusta
O que vejo brotando,
desafia e assusta
Ser de verdade, despir-se de modelos
Aceitar-me como sou
Entender as minhas vulnerabilidades
Compreender minhas explosões
As erupções dos vulcões adormecidos
Os altos e baixos do meu humor
As minhas fases e faces
Até então desconhecidas ou preteridas
Vão surgindo e me trazendo de volta pra mim
Muito prazer:
seja bem-vinda a este corpo que é teu
Faz nele tua morada
Vivendo a descoberta de ser
Sendo de verdade
Na singularidade e pluralidade do ser.
(Poema publicado na Antologia Escritas de Si - Edições & Publicações)