Zenilda Ribeiro
Escrever é um ato libertador e uma forma de me reinventar.
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Relacionamento em crise

De repente estou a procurá-la. Saiu e não mais voltou. Cada dia sinto mais forte a sua ausência. Creio que ficou chateada, tantas tentativas de diálogo frustradas. Eu, aqui absorta nos muitos afazeres, não lhe atendi nas diversas vezes em que me convidou para uma conversa. Não, eu não quero julgá-la, muito menos acusá-la de ser vingativa. O fato é que me deixou esses dias. Me sinto só. E o medo de que não retorne para mim, tem deixado meus dias cinzentos, nublados, com riscos de chuvas e trovoadas.

Dizem, e é a mais pura verdade, que relacionamentos se constroem na convivência, na escuta atenta, na reciprocidade. Não reclamo do nosso relacionamento. Ela sempre foi atenta e proativa, nunca me deixou na mão. Foi sempre presente, especialmente nos momentos mais conturbados e sofridos da minha vida, ajudando-me a não perder a esperança, a olhar de outra forma e, sob nova ótica, atribuir outros sentidos para o que me acontecia. Foi graças a essa companhia sempre presente que tenho conseguido seguir de pé em meio a este ano tão pesado, de tantas lutas e lutos. Já de minha parte, confesso, existirem falhas, muitas falhas.

Estou aqui, em plena tarde de domingo, louca por um daqueles nossos encontros fecundos, da nossa prosa, por vezes poética, que vínhamos tendo com muita constância. Não, não devo reclamar, nem posso. É preciso entender que num relacionamento saudável o respeito à individualidade também se faz necessário. Por certo ela necessitou se ausentar um pouco. Talvez tenha percebido que eu também estava carecendo de um tempo a sós. Ela é muito sábia e discreta. Percebeu que eu precisava me olhar um pouco, pensar mais em todas as situações que andaram me afastando dela. Foi isso. Prefiro pensar assim.

Se posso, amiga leitora e amigo leitor, te dar uma dica diante da situação em que me encontro, te diria para procurar dosar melhor as coisas da vida, sabe? Falo isso porque sei muito bem que tenho a tendência a me dar por demais ao trabalho, aos muitos papeis que tenho que desempenhar e acabo negligenciando em outras questões. Por vária vezes durante o dia ela vinha buscando um diálogo comigo, mas não lhe dei a devida atenção, mesmo sabendo que em todas as situações da vida, em especial no trabalho como professora, num período atípico como esse, ela é companhia inseparável. Mas não escutei a sua voz, mesmo quando ela gritou baixinho, praticamente sussurrando, por um momento, para que pudesse me auxiliar nas tensões em que me encontrava. Era tanto barulho dentro de mim que não pude escutá-la.

O bom é que quem ama não desiste, né? Acredito que ela não se foi para sempre, apenas me deu a oportunidade de sentir a sua falta, de reconhecer a importância dela na minha vida, se pretendo continuar em busca de viver meu propósito neste mundo. O meu propósito está intimamente ligado a ela. Sem ela serei como um náufrago em alto mar, sem bote salva-vidas, sem sequer uma pequena boia para nadar até a praia.

Foram madrugadas aqui, na solidão, procurando entender por que ela me deixou, se realmente me abandonou e como poderia reencontrá-la. Venho aprendendo que quando se deseja ardentemente algo e a esse desejo se aplica a força da fé, sem desistir ou desviar-se dos objetivos, realizando as ações necessárias, seu desejo poderá se materializar. Mantive-me focada, então, praticando as minhas leituras e orações. E, eis que quando menos esperava, ela deu sinais de que estava por perto. Me acenou, de longe, mas foi um aceno profundo que me trouxe muitas ideias, inclusive estas linhas que acabo de escrever, celebrando o nosso reencontro.

Estou agora de braços dados novamente com a senhora criatividade. Ela anda me soprando várias ideias e projetos. Vou embarcar com ela. Confio que ela vem de uma fonte superior que, na minha forma de crer, chamo de Deus, a grande fonte de vida, de luz. O espírito mais criativo que existe.

Não quero mais deixá-la partir, mas se acontecer novamente, sei que há um propósito também na sua fuga, na sua ausência. A ausência também nos ensina. Prometo ser mais aberta e acolhedora aos seus convites. Ela sempre sabe o que é melhor em cada situação. Não feche a porta para a sua criatividade, ela pode se cansar de bater sem ser atendida. Aprenda a escutá-la. Estou aprendendo.

 

 

 

 

Zenilda Ribeiro
Enviado por Zenilda Ribeiro em 13/12/2021
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